sábado, 7 de julho de 2012

Zatelli - A saga e os mitos de uma imigração

"Felizes, (...), as famílias que têm história, porque lhes é dado o júbilo de a recordar, porque ela constitui a fonte fecunda, inesgotável e profunda de suas energias morais; porque, a cada passo que dão, sentem atrás de si o rastro de sua própria imortalidade. Que é a vida, senão a história que começa? Que é a história, senão a vida que continua? A história de nossa família, de nossa gente, de nossa casa está conosco. Respira perto de nós. A sua presença todos adivinham. Ora bela, ora triste, é uma grande história". Júlio Dantas - da Academia de Ciências de Lisboa, in "Outros Tempos" À cerca de trinta anos caiu em minhas mãos a árvore genealógica da família Hoepfner de minha avó paterna. Subitamente fiquei pensando, afinal quem seriam os familiares e qual a ascendência da família de meu avô paterno, Hagedorn. E claro eu não podia deixar de pensar em todas as histórias que minha avó materna (Maria Kraetzer Zatelli) me contava sobre os Zatelli. Daí naturalmente como uma boa contadora de histórias ela também falava do seu pai Josef Kraetzer, era assim que ela dizia, com “ae”! Teria vindo de São Pedro de Alcântara/SC. Foi assim que tudo começou. A partir de então, era um tal de percorrer cemitérios, descobrir quem estava enterrado onde, quem era pai de quem, quem era filho de quem, quem era mãe de quem, etc. Sempre fotografando lápides sepulcrais, coletando fotos de familiares e não familiares. Muitas vezes as pesquisas por imagens não davam em nada. Por exemplo, como eu queria encontrar uma foto de meu ao materno o Giacinto Zatelli. Tudo o que eu havia conseguido era uma foto 3 x 4 e uma foto reproduzida no formato daquelas de casamento que os antigos guardavam sobre a parede da sala, de formato oval, apresentado marido e mulher em formato “portrait”. Aí a internet entrou em minha vida. Pesquisa daqui, pesquisa de lá e acabei certo dia entrando num site do Círculo Trentino de Rio dos Cedros, e encontrei lá o link para outro site: da família Perini! Lembrei então que a primeira mulher de Giacinto havia sido Aurélia Perini. Bingo! Lá estava a foto rara que eu procurava: Giacinto Zatelli, com Aurélia e Concietta, sua primeira filha no colo da mãe. Achei então uma foto do Giacinto meu avô e da tia Concietta! Mas os Zatelli ainda teriam muitos mistérios. Quem afinal era italiano? Sempre me diziam as “mitologias” familiares que Giacinto havia chegado pequenino no Brasil. Criei meu primeiro blog, reunindo minhas memórias, e as das suas cinco filhas então ainda vivas, Clara (Zatelli) Tafner, Olinda (Zatelli) Holler, Catarina (Zatelli) Schmidt, Ana (Zatelli) Leithold (a única já falecida atualmente) e Cecília Zatelli (minha mãe). Coloquei meu Blog no ar. Daí apareceu um primo em segundo grau, interessado no tema, Vito Zatelli, e foi corrigindo algumas coisas para mim. Disse que tinha lá até alguns documentos originais da Itália, e do Brasil. Bingo de novo: surgiram os extratos das certidões de nascimento do meu avô, que se chamava de fato Giacinto Fortunato Zatelli (Nascido em Rio dos Cedros/Blumenau/SC – mito desfeito) e ainda por cima ganhou um terceiro nome que nenhuma de suas cinco filhas conhecia: Fortunato. Giacinto era filho de Andrea Fortunato Francesco Zatelli, nascido no Trento, não em Matarello conforme pensávamos todos (mais um mito desfeito). Relativamente a este tema, ou seja a origem da família Zatelli tomei a liberdade de transcrever parte do texto apresentado no Site da Família Uber no dia 25/07/2010: “Era o ano de 1874. Em Mattarello, um grupo de 15 famílias (Zatelli, Andrea e moglie – entre eles*) depois de organizadas e instruídas pela Direção da Colônia de Blumenau, através do Comendador Joaquim Caetano Pinto Júnior, encarregado da emigração trentina pelo Vale Itajaí, resolveu sair de sua querida terra, aceitando o convite que lhe fora feito. Completavam o grupo 12 famílias aliciadas nos arredores de Trento. Levavam consigo apenas seus pertences pessoais: roupas, utensílios domésticos, livros devocionais, ferramentas e objetos comuns. As propriedades imobiliárias foram deixadas para os filhos casados que lá ficaram, ou vendidas por pouco dinheiro, devido ao entusiasmo e à pressa de viajar. Confiantes nas promessas que lhes foram feitas, cheias de esperanças no porvir, acenaram o último adeus à sua terra de Mattarello (talvez Andrea vivesse em Mattarello já que ambas as esposas eram de Mattarello*), em demanda da nova pátria. Blumenau deveria ser a sua meta, a sua nova Mattarello. O embarque dessa primeira leva se efetuou no porto de Trieste, num navio a vapor, em dezembro de 1874. Depois de um mês de viagem, o navio atracou no porto de Itajaí/SC, em fins de janeiro de 1875, e seus passageiros se dirigiram imediatamente para Blumenau, por via fluvial. Acomodadas as famílias em barracos para esse fim, os homens de Mattarello, partiram logo, subindo o rio Itajaí-Açu, entrando depois pelo rio Benedito, até Timbó. Daí para frente, caminharam a pé pela estrada Pomeranos/Santo Antônio. Era a primeira leva de imigrantes trentinos que pisava a terra de Rio dos Cedros.” Fonte do texto: http://familiamansuetouber.blogspot.com/ 25/07/2010 – 17:00hrs. *Grifos de Loreno Luiz Zatelli Hagedorn. Portanto do ponto de vista legal, conforme documentos levantados pelo primo Vito Zatelli, Andrea e seus antecessores foram todos registrados no Trento – Paróquia de São Pedro e São Paulo. Já ambas as esposas de Andrea (o imigrante) teriam nascido no Mattarello. Daí que sempre a mitologia familiar registrou que os Zatelli também teriam sua origem em Mattarello. E esta parte da Mitologia caia por terra: os Zatelli haviam sido registrados na paróquia de São Pedro e São Paulo, no coração do Trento! E mais com estes documentos conseguíamos seguir pela linhagem ascendente até o século XVIII (cerca de 1790), e todos do Trento, batizados na mesma Paróquia. O Pai de Andrea era Leonardo (1810) e o pai de Leonardo era Valentino (sem data precisa, porém estimada em 1780/90). Com o localização dos Termos de Batismo (conforme assentos da Paróquia São Paulo de Blumenau) dos filhos: Giuseppe, Giacinto, Valentino, Giovanni, Roberto e Affonso, teríamos localizado seis filhos todos nascidos no Brasil. E a parte do mito de que Giacinto teria nascido na Itália, caía por terra! Porém surge um primeiro filho inteiramente desconhecido pela família: Giovanni. Dele só se sabe a data de nascimento registrada em seu Termo de Batismo (vide a questão dos filhos falecidos de Andrea Zatelli)! Para quem começou apenas com mitos, chegamos longe, pois não? Não, não é o suficiente. Faz pouco comecei a me corresponder com Evandro Zatelli que mora na cidade de Merate/Lombardia. Pois é ele admitiu que há, na Itália hoje, cerca de quatrocentos Zatelli apenas. Mas disse que não é nosso parente. Além disso, ele me informou que os Zatelli existentes nos Estados Unidos, todos sem exceção são parentes seus. Daí que seguindo esta linha de raciocínio, nenhum descendente desta vasta genealogia seria parente nosso. Claro não devem ser. Não creio que ele tenha chegado tão longe quanto eu em sua genealogia. Porém se conseguirmos fazê-lo remontar ao século XVIII, acho pouco provável que ele e nós NÃO sejamos parentes. Só não seremos parentes por mero acidente de percurso. Ele já admitiu que sua família também vem do Trento.... Contudo eu não desisti até que um dia pelo FACEBOOK, um Zatelli Adicionado como amigo meu – Maurizio (Nato no Trento, mas vivendo em Roma) pediu para conversar comigo. E fez isto em seu Inglês algo macarrônico. A certa altura da conversa ele disse textualmente: “it’s rare but I am sure that we are parents!” – ele queria dizer: “é fantástico, mas parece que somos parentes.” Disse isto depois de haver dito:”...But I’ll ask my father. I have already heard the name Andrea Fortunato Zatelli” (vou perguntar ao meu pai. Mas já ouvi o nome Andrea Fortunato Zatelli). E me recomendou que fizesse contato com Mauro*, seu primo irmão que ainda mora no Trento. Fiz o contato, mas nunca recebi resposta. Isto aconteceu no “chat” do Facebook do dia 20 de maio de 2010. Já no apagar das luzes de 2010, uma quase “chará” minha, LORENA ZATELLI (adicionada no meu FACEBOOK), fisiculturista renomada na Europa, e que também tem suas origens no Trento onde ainda vive, manda-me um e-mail (18 de novembro de 2010 às 09:24) e diz textualmente: “Oi LORENO, mio nonno e anche mio bisnonno si chiamavano Valentino Zatelli, di Trento eu foi no Brasil y eu gostei muito, não falo bom, ciao”. Parece ser uma nova luz sobre nossas raízes na Itália. Nesta caso seríamos afinal parentes? Lorena, prima distante de Loreno, Hehehe! A maneira de levantar organizar as informações e o rastreamento proposto por mim é um pouco mais trabalhosa e nem sempre compartilhada por outros estudiosos de genealogia. A principal grande diferença é que sempre faço meus levantamentos levando em conta os descendentes dos ramos femininos, que naturalmente acabam por conformar ramos de sobrenomes diversos. Desta maneira a árvore naturalmente fica mais extensa e pode atingir, por exemplo, um número quase infinito de descendentes indiretos. Isto em minha visão enriquece o trabalho e enseja a que outros descendentes se engajem neste trabalho que sugere uma continuidade mesmo após o final de minha jornada pela terra. De outra feita é meu hábito citar a mulheres casadas com parceiros dos ramos principais, sempre com seus nomes de solteiras, para neste caso poder identificar a família de origem do gênero feminino, não apagando os rastros de sua ascendência, o que é reforçado pela citação, sempre que possível do nome de ambos os pais, com datas de nascimento e falecimento (quando for o caso). Isto novamente enseja outra árvore genealógica a ser construída. Tal ação até se produziu em alguns casos. Naturalmente esta tarefa é homérica. Apenas poucas estão sendo trabalhadas, por mim, até o presente momento. Sempre que possível também coloco no ar, via internet um “BLOGSPOT” com cada uma das famílias as quais pesquiso, o que tem produzido respostas positivas por parte especialmente de descendentes mais atualizados e que freqüentam a internet. Naturalmente para o ar vão somente as pontas aparentes do “iceberg”. Para produzir os “blog’s” faço também extensa pesquisa de coleta de imagens e algumas postadas neles. Vários contatos acabam se produzindo através de mensagens que são remetidas para estes tais “blogs” de família, e acabam me auxiliando, com suas preciosas informações. Por outro lado a internet tem sido uma excelente ferramenta que me permite pesquisar também a origens dos nomes, etc.. Como ferramentas de pesquisa ao utilizar da internet de forma extensa, além de acompanhar as edições novas e antigas de livros que tratem do tema imigração, posso ter acesso a novos livros que são lançados nacionalmente sobre o tema, que sempre que possível adquiro, leio atentamente, e, não raras vezes podem mesmo ser identificados em outras famílias, sobrenomes das famílias que pesquiso. Quando isto acontece, fico tão feliz como o pastor da parábola de Cristo, aquele que encontrou sua ovelha perdida e a trouxe para casa. Faço então o mesmo, relaciono o novo familiar ou aparentado, desde que comprovadamente ele seja aquele a quem eu procurava, e cito logo após seu nome o livro ou o “site” familiar em que ele é citado. No caso de imigrações alemãs, há um grupo denominado “Grupo de imigração alemã” no Yahoo (mas vários italianos e portugueses/açorianos que não são o foco do grupo tem colaborado, já que nas pesquisas muitas vezes, as diversas etnias se entrelaçam) e há também para o caso das imigrações italianas um similar Grupo Brava Gente” também no Yahoo (menos ativo que o grupo equivalente alemão), ambos gerenciados de uma maneira muito competente e séria pelos seus moderadores. O importante é que em ambos os casos, os grupos são formados de voluntários, e não há nenhum tipo de custo. Há sim, o compromisso de cada um dos membros do grupos se auxiliarem mutuamente, trocando informações e sobretudo avançando nas pesquisas. Além disso, na Internet, embora ás vezes hajam informações equivocadas, pode-se utilizar de fontes como, os anuários genealógicos do Instituto Hans Staden, atualmente denominado Instituto Martius-Staden (da Fundação Visconde de Ouro Preto), e naturalmente o fantástico arquivo dos Mórmons, o Family Search. Mais recentemente entrou no ar o Pilot Site administrado pelos mesmos mórmons e que postou aberto ao público em geral aquilo que considero o supra-sumo das ferramentas de pesquisas via internet: os Arquivos de Registro Civis (Certidões de Nascimento, Casamentos e Óbitos) e os Registros Religiosos (Termos de Batismo, Matrimônio e Óbitos), em todo o mundo. Mas Santa Catarina é privilegiada: praticamente todas as cidades, abrangidas pelas colonizações alemãs e italianas, já estão acessíveis! Não é mais necessário ir até aos Cartórios de Registro Civil, implorar pagando taxas por transcrições, que pela metodologia da oficialidade, ocultam informações imprescindíveis ao pesquisador sobre seus ascendentes. O mesmo serve também para as cúrias, quem nem sempre tem pessoas com tempo ou eventualmente disposição em efetuar as tais buscas, que costumam ser demoradas. Além disso, como historiador fico fascinado, porque além disso estamos poupando do manuseio documentos originais, que, já fragilizados pelo tempo, se deterioram com muita facilidade. Esta nova possibilidade facilitou ainda mais as pesquisas, que agora podem ser realizadas quase que exclusivamente em gabinete. No caso de nossa pesquisa sob re Zatelli, porém, proporcionaram também, novas surpresas: surgiram dois novos ZATELLI! Eles existiram porque estão registrados, mas ainda são personagens obscuros. Um já foi citado acima Giovanni Zatelli (dele só sabemos quando e onde nasceu e foi batizado, e outro Roberto (com um homônimo do qual só temos o Termo de Óbito). Este Roberto seria provavelmente um sétimo filho. São mistérios a serem ainda desvendados! Certa feita, quando pesquisava num “site” denominado Mondo Trentino, acabei por descobrir quase por acaso mais dois Zatelli – filhos de Andrea: Luigi, filho de sua primeira esposa e Luigia, filha de sua segunda esposa. Eles vieram a juntar-se aos filhos de Andrea sendo, portanto, um oitavo e um nono filhos do mesmo. Finalmente, via Pilot Site do Family Search, surge em Rio dos Cedros, batizado na paróquia de São Paulo Apóstolo em Blumenau um décimo filho Angelo. Assim de uma maneira muito simplificada podemos hoje dizer que Andrea Fortunato Francesco Zatelli teve 10 filhos sendo um com sua primeira esposa Domenica Brunelli e nove com Anna Toller, sua segunda esposa: 1. LUIGI FRANCESCO ZATELLI *16/09/1871 batizado em “Traslacione di” S. Marina - Paróquia de Ravina/Matarello/It, +~1876 em Rio dos Cedros/SC (foi provavelmente durante seu parto que faleceu a primeira esposa de Andrea – Domenica Brunelli). Imigrou com o pai e a madrasta Anna Toller. 2. LUIGIA DOMENICA ZATELLI *04/02/1875 batizado em “Traslacione di” S. Marina - Paróquia de Ravina/Matarello, +~1875/6 “Al Mare” (provavelmente emigrada com alguns meses no final de 1875 e falecida “al mare”, sepultada no mar – conforme o “mito” familiar que alegava que uma filha teria morrido na viagem). 3. ANGELO ANDREA ZATELLI *17/09/1876 em Rio dos Cedros/SC, +(presumivelmente) no mesmo ano 1876 em Rio dos Cedros/SC. O fato de haver sido batizado condicionalmente o indica possibilidade de risco de morte. 4. GIUSEPPE GIOVANNI ZATELLI *05/08/1878 em Rio dos Cedros/SC, +22/09/1966 em Rio dos Cedros/SC. 5. JACINTO FORTUNATO ZATELLI *08/04/1880 em Rio dos Cedros/SC, +09/01/1954 em Jaraguá do Sul/SC. 6. VALENTINO DOMENICO ZATELLI *14/03/1882 em Rio dos Cedros/SC, +26/01/1969 em Morro Redondo/Taió/SC. 7. GIOVANNI ANGELO ZATELLI *03/06/1884 em Rio dos Cedros/SC, sem notícias do falecimento. Presumivelmente ainda pequeno. 8. ROBERTO ZATELLI *1886 (talvez *1876 e talvez gêmeo de Ângelo Andrea Zatelli) em Rio dos Cedros/SC – Contudo o único documento oficial dá como *1886, +26/05/1889 aos três anos de idade. 9. ROBERTO LEONARDO ZATELLI *30/05/1886 em Rio dos Cedros/SC, +25/02/1936 em Rio dos Cedros/SC. 10. AFFONSO MARIA ZATELLI *12/12/1888 em Rio dos Cedros/SC, +16/04/1979 em Rio dos Cedros/SC O Detalhamento das dúvidas e questionamentos sugeridos pelo autor referentes à prole acima, são discutidos mais adiante em local apropriado. O Presente trabalho pode conter erros de interpretação, não está acabado, e, sobretudo está aberto a contribuições de qualquer um bastando para isso que o interessado em contribuir, destaque a última página e trabalho também um pouco, preenchendo as lacunas, iniciando pelo nome completo á partir do qual ele pretende produzir a seqüência familiar ou a correção de dados, conforme for o caso. Há também no final do presente livro uma indexação que apresenta os sobrenomes e as devidas identificações do ramos familiares a que pertencem. Tenham uma boa leitura. *Mauro Zatelli é escritor - vide “Outros Zatelli no mundo”

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